Está aberta a temporada de Fake News no IFBA?

Mas o fato é que mesmo sem ninguém assumir sua autoria ou responsabilidade sobre a pesquisa, ela existiu. Para além da covardia evidente, uma outra se somou à original: a imputação da responsabilidade ao único espaço verbalizador de críticas ao condomínio do poder eleito para a Reitoria nas últimas eleições de 2018, ou seja: à equipe do Entrelinhas.

POLITICA

Luís Antônio Papa

7/31/20232 min ler

Recentemente recebemos em nossos e-mails institucionais uma pesquisa sobre intenção de voto para Reitor e sobre avaliação de desempenho das Pró-Reitoras do IFBA.

Tudo muito estranho, afinal de contas a pesquisa não estava indicando nem seu responsável técnico, muito menos seu contratante. Passaram-se vários dias e as dúvidas permaneceram: quem contratou a pesquisa? Quem liberou o acesso aos nossos e-mails para que recebessemos os disparos automáticos de uma empresa especializada na divulgação de informações por meio digital? Alguns dos nomes citados como possíveis candidatos a Reitoria autorizou seu uso nesta pesquisa? De minha parte afirmo categoricamente: Não!

Mas o fato é que mesmo sem ninguém assumir sua autoria ou responsabilidade, ela existiu. Para além da covardia evidente, uma outra se somou à original: a imputação da responsabilidade ao único espaço verbalizador de críticas ao condomínio do poder eleito para a Reitoria nas últimas eleições de 2018, ou seja: à equipe do Entrelinhas.

Muito suspeito, evidentemente mas, infelizmente, nada inovador, afinal a forma usual e hegemônica de se afirmar politicamente no IFBA, muitas vezes passou pelas conversas de corredores, pelas acusações inventadas e sem provas, pelas falácias lógicas, pelo personalismo, entre tantos exemplos de uma cultura política que já deveria ter sido superada entre nós.

Poderia aqui aproveitar o espaço gentilmente cedido e citar algumas das quais fui alvo, vil e insidiosamente mas, é mais importante para a Instituição e para a qualidade do trabalho que realizamos, apontar em linhas gerais o efeito deletério dessas práticas para o método democrático, tão atacado pelas hostes do neofascismo bolsonarista, quanto também tão arduamente defendido por nós.

As eleições periódicas são um elemento fundamental de uma prática política e de uma gestão efetivamente democrática e humanista. Sem essa forma de escolha dos representantes e das chefias, não poderíamos falar de democracia no ambiente escolar, porém as práticas e valores democráticos vão muito além das formas de escolha eleitoral, ou seja: termos eleições, por si só, não nos garante um convívio democrático e saudável entre pessoas e grupos políticos portadores de experiências, valores e aspirações divergentes.

É necessário que se desenvolvam condições objetivas e subjetivas de uma vivência democrática, sem perseguições institucionais aos representantes das minorias políticas e sem assédio moral no espaço de trabalho - como muito provavelmente ocorreu com nossa colega Patrícia, redatora do Entrelinhas e representante TAE eleita ao CONSUP no ano passado.

É necessário que os/as eleitos/as respeitem os limites legais no exercício de suas funções administrativas, não subvertendo as formas da boa governança e do trato republicano da máquina pública, aos seus interesses políticos particularistas e transitórios.

Um olhar a partir dessa perspectiva mais profunda das práticas e valores democráticos, nos impõem a certeza de que, apesar das práticas discursivas atraentes e sedutoras, ainda temos muito o que avançar, afinal a condição de uma prática social efetivamente humanista e democrática, vai muito além de uma máscara social envergada em determinadas ocasiões festivas ou institucionais.

Além disso, talvez os efeitos mais danosos das fake news e dos argumentos demagógicos no processo político da escolha democrática de chefias e direções pela via eleitoral, é o desvirtuamento do debate das questões concretas e das múltiplas agendas emancipatórias que efetivamente importam em nosso o dia a dia acadêmico e institucional, remetendo nossa atenção para argumentos falaciosos, quando não profundamente caluniosos, pura e simplesmente.

As falácias e fake news não são uma novidade entre nós, estando presentes infelizmente há muito tempo em nossa cultura política, mas elas podem e devem ser enfrentadas e combatidas no dia a dia de nosso trabalho, de nosso fazer institucional e, também, durante o período eleitoral. Só com o debate sincero e autêntico das nossas reais condições de trabalho, dos acertos e equívocos de nossos gestores tanto em nível estadual, quanto em nível local, é que podemos construir ambientes de trabalho saudáveis, corrigirmos os rumos políticos e de gestão que considerarmos necessários e melhorarmos a qualidade de nossas vidas e do trabalho que executamos para a sociedade Baiana e Brasileira.

Luís Antônio Papa,

Doutor em Ciências Sociais pela UFBA

Professor de Sociologia do Campus Salvador

Ex-candidato à Reitoria do IFBA em 2018


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