O JIFBA 2023 e a política do “Pão e Circo”
Economicamente, a sociedade brasileira ainda sofre as consequências da catástrofe que foi o governo Bolsonaro e parte da população vive com as sequelas deixadas após a contaminação pela COVID-19. No IFBA, o retorno às atividades não foi acompanhado de estudo dos impactos na vida acadêmica dos alunos, provocados pelo longo período de isolamento.
EDITORIAL


Vocês estão contra a realização do JIFBA2023? Este foi o questionamento feito por um professor, através de uma ligação via WhatsApp, logo depois de publicarmos a matéria que trata do tema, JIFBA2023, nesta quinta-feira, 13 de julho. Na verdade, foi uma pergunta com conotação afirmativa dado o sentimento de irritação extraído da sua fala, que foi pelo próprio respondia: "estão, sim!" Concluiu ele!
Conversamos por quarenta minutos, mais ou menos, e ele tentando me convencer de que nós, do Informativo Nas Entrelinhas, adotamos posicionamento contrário à realização do JIFBA2023.
Deixemos claro que nós temos a liberdade e a coragem de adotarmos o posicionamento que julgarmos, sobre qualquer assunto. Quanto à matéria publicada, de fato, o texto é crítico sim, mas não há posicionamento contrário à realização do JIFBA2023. Está explícito ao final da matéria, destacado em negrito: “Jogos sim, continuados, formativos mas, a que custo?” Aliás, o texto é adaptado da produção de autoria de uma servidora que preferiu manter-se no anonimato.
Em mensagens trocadas também pelo WhatsApp com um outro professor, ao se referir a alguém da área de Educação Física, escreveu: “...os jogos são consolidados pelos discentes.” “Os jogos são uma motivação para muitos continuarem no Instituto.” “É um dos poucos momentos de interação de uma fração dos estudantes nessa Bahia toda.” “Ele afirmou que nenhum gestor, na conjuntura que estamos deixaria de realizá-lo”
Qualquer que fosse o gestor do Instituto, depois de uma pandemia que dizimou mais de 700 mil vidas brasileiras e afetou economicamente milhões de famílias, teria dificuldade em decidir pela realização, ou não, dos jogos estudantis. A pandemia acabou mas temos que conviver com as consequências. E ainda que a decisão fosse por não realizar o JIFBA2023, não estaria livre das nossas críticas, como também de tantos outros analistas. Mas, certamente, não seria qualquer gestor do Instituto que decidiria por realizar os jogos, e da forma como está sendo organizado, desprezando os gravíssimos problemas institucionais que são mais por ineficiência da gestão do que por outro motivo qualquer.
Retornamos às nossas atividades presenciais ainda no final de 2021, parcialmente mas, plenamente, a partir de março de 2022. A Reitoria já tinha iniciado a sua reforma estrutural, e ainda não está concluída... Da mesma forma, acredita-se que muitos campi pelo interior e também na capital e região metropolitana, se não estão em reforma, estão necessitando ou já concluíram. E para o bem de todos e felicidade geral da nação, fomos vitoriosos na eleição presidencial. Se fosse outro o resultado…
Economicamente, a sociedade brasileira sofre as consequências da catástrofe que foi o governo Bolsonaro e parte da população vive com as sequelas deixadas após a contaminação pela COVID-19. No IFBA, o retorno às atividades não foi acompanhado de estudo dos impactos na vida acadêmica dos alunos, provocados pelo longo período de isolamento. O Instituto tem cerca de 30.000 alunos, aproximadamente. A população de discentes é segmentada por faixas econômicas que vão desde aqueles cujas famílias podem estar classificadas como de classe média a média alta, até aqueles que podem ser classificados como pobres ou de extrema pobreza. Certamente, para estes, os impactos da pandemia foram mais cruéis e pode-se afirmar que a totalidade deles necessita do apoio ou assistência estudantil que é prestada, principalmente, através de alimentação e transportes, e essas são prioritárias. Na faixa da pobreza e extrema pobreza há muitos alunos que exercem alguma atividade paralela, seja no auxílio prestado na pequena lavoura de subsistência familiar, seja na comercialização de parte da produção, no comércio informal, ou outra atividade qualquer que impeça o aluno de priorizar os estudos.
Paralelo a isso, o IFBA tem problemas crônicos e gravíssimos que foram acentuados a partir da pandemia e que afetam profundamente a vida acadêmica dos alunos: o ineficiente gerenciamento da política de ensino e a consequente falta de professores, tendo como reflexo a contratação de substitutos para suprir tal necessidade. Como pode uma gestão extrapolar o limite legal de 20% de contratações de substitutos, chegando ao ponto de rescindir contratos, unilateralmente, com o objetivo de criar vagas para os novos contratados e ainda assim, ter o Instituto reclamações e denúncias de alunos por falta de professores?
Como se tudo isso fosse pouco, ou nada, há dias foi veiculado nas redes sociais um vídeo em que é exibido o nível de deterioração das instalações físicas do campus de Santo Amaro. O Nas Entrelinhas também denunciou as condições físicas dos locais de trabalhos em alguns setores da Reitoria, que ainda não foram solucionados plenamente. Os problemas estruturais, assim como alunos sem aulas por falta de professores, estão presentes em todo o Instituto.
Os jogos estudantis têm o papel de promover a interação entre alunos dos diversos campi do IFBA, isso é compreendido e aprovado por toda a comunidade e, diante do contexto eleitoral que se avizinha, realizá-los, ou não realizá-los, tem consequências políticas. Fazendo-se uma análise, do ponto de vista político eleitoral, realizar o JIFBA2023 com a injeção de mais de 1,65 milhões, com muita festa e alegria, superaria, pelo menos, momentaneamente, os problemas enfrentados pelos alunos. Uma gestão democrática e com visão humanizada ponderaria na sua organização e chamaria a comunidade para discutir e decidir a melhor forma para a sua realização.
O que se questiona é o investimento vultoso, em torno de 1,7 milhões para a realização do JIFBA2023. Para além disso, é preciso saber se o Plano de Gerenciamento da Assistência Estudantil do IFBA prevê o uso de parte do recurso para a realização de eventos desse tipo. Se há previsão, qual é o limite? O valor rateado pelos campi para custear o JIFBA2023 está dentro do limite previsto? Qual o nível de prioridade institucional para a realização do JIFBA2023 em detrimento dos problemas institucionais? Há relatos de alunos carentes que não foram contemplados pela Assistência Estudantil do IFBA, por qual motivo?
Nós, do Informativo Nas Entrelinhas, não somos contra o JIFBA2023, deixemos isso bem claro! Somos contra a “Política do Pão e Circo.” Com tantos problemas institucionais, realizar o JIFBA2023 com toda essa pompa, nos remete à época da Roma Antiga quando os governantes utilizavam-se de estratégias para manter o povo entretido e satisfeito, visando evitar as revoltas por conta da insatisfação social, e a insatisfação da comunidade do IFBA nesse curto período que antecede as eleições para a Reitoria e Diretorias-Gerais dos campi, seria um remédio amargo, difícil de ser administrado.
Com tudo isso, o reino estará em festa, sejam todos bem-vindos!!!